quarta-feira, 26 de junho de 2013

Protestos generalisados

Desenho no quadro branco - Paz.
"- Uma vez, professor, quando eu tava brincando e quebrei uma garrafa, um pedaço dela entrou no meu olho e o meu pai teve que me levar para o pronto-socorro, e lá eles me mandaram para Porto Alegre, bem longe! Eu podia ter ficado cego, professor, tu sabia?

- Sabia, sim, e é isso que o professor tá falando, que aquilo que a TV mostra não é tudo... Alguns quebraram vidros e queimaram ônibus, sim, mas a maioria daquelas pessoas protestando só está triste e quer que o governo cuide melhor da população e invista melhor o dinheiro dos nossos impostos. Entenderam? 
- Entendi! Vamos fazer os cartazes que tu falou, então, professor! Para a gente pedir hospital e uma escola melhor também! Vou fazer o meu bem grande e colorido!!!"

Este é um diálogo que aconteceu em um 2º ano do Ensino Fundamental! Essa semana falei com eles sobre as manifestações Brasil afora!

Graças à nossa mídia tendenciosa, eles achavam que todo manifestante é vândalo, e depois de deixar eles falarem, comecei a desconstruir alguns conceitos e explicar o contexto. Como eu esperava, eles só entenderam tudo quando o assunto chegou no SUS! Ninguém disse para eles que a passagem do transporte público não deveria ser cara e que a educação pública poderia ser muito melhor, mas da precariedade do SUS e do pronto-socorro todos eles sabem, pois ouvem as pessoas da família contando. Cada um tinha uma história triste para contar; desde perder a avó no corredor do PS até uma preocupação recente, de um aluno cujo pai sentiu uma dor forte no peito neste Domingo, e quando foi marcar um exame ficou com a consulta marcada para daqui alguns meses... Enfim, foram muitos relatos tristes, mas agora eles entendem que a maioria das pessoas nos protestos não eram vândalos, mas cidadãos descontentes com a má administração pública no nosso país. E agora eles querem protestar também! Serviço feito!

Fica a dica:
Não podemos deixar para falar de política para os nossos educandos depois que eles já forem adolescentes impacientes que aprenderam com o senso comum, com as pessoas erradas, que "Política é uma coisa chata"! Temos que começar cedo, falando francamente, de uma maneira que eles entendam e correspondam. Somos todos políticos, e é somente exercendo o seu poder democrático que o povo será atendido. Precisamos conscientizar o povo brasileiro!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Realidades diferentes.

Projeto de escola primária sustentável de Vilhelmsro, na Dinamarca.
Enquanto nós temos escolas que parecem e funcionam quase como presídios, e ainda tentamos dedicar 10% do PIB para a educação, a Dinamarca pensa escolas sustentáveis! 

Outro mundo, outras prioridades! Ou outras prioridades, outro mundo?

Veja mais clicando AQUI.

Chegaremos lá?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O negro na história de Pelotas.

Escravo negro(?) empurrando mala sem alça da charqueada - Desenho de aluno 

Neste mês, nos preparando para a comemoração do aniversário da cidade de Pelotas, a coordenação do currículo do Colégio Municipal Pelotense organizou um passeio com os 4ºs anos para visitar a charqueada São João, uma das 40 que existiram às margens do arroio Pelotas. Lá, nada mais resta do fedor insuportável dos restos dos mais de 300 mil cabeças de gado abatidas por ano no ápice da produção do charque. Do sofrimento da escravidão, restam apenas algumas correntes e grilhões deteriorados, uma réplica de pelourinho/tronco e restos da senzala, que a rede Globo por ironia transformou em capelinha para gravar a série "A Casa das 7 Mulheres".

De todos os itens da charqueada, o que mais chamou a atenção dos alunos foi uma enorme mala sem alça antiga, muito maior que um baú. Para as crianças, em sua ingenuidade, tendo ouvido apenas a explicação superficial da guia turística do local, imaginar um escravo carregando aquela enorme mala foi uma das piores situações que conseguiram imaginar, depois de apanhar no tronco. Afinal, apanhar sempre é apanhar, mas imaginem carregar uma mala sem alça!

Hoje, em sala de aula, uma semana depois da visita, relembrei muitos detalhes e tentei contextualizar tudo, enfocando as dificuldades da vida do negro na charqueada. E a água fria do arroio, no inverno? E o perigo de morte por afogamento puxando a nado as Pelotas carregadas? E o sofrimento e os danos gravíssimos à saúde causados pelo trabalho intermitente com o sal, sem equipamento de proteção? E a violência psicológica? Quantas formas de opressão?

As crianças refletiram bastante, e melhoraram um bocado o real entendimento da história de Pelotas. Entenderam o que realmente acontecia nas charqueadas, financiando a "glória" e "opulência" que hoje exibimos aos turistas, sem tocar muito nos assuntos constrangedores. Para finalizar, perguntei quem deles tinha algum antepassado afrodescendente na família, e 90% da turma tinha! 90%!!!

Depois de toda essa reflexão, eles foram desenhar o que lembravam da charqueada, e não mais queriam representar apenas a beleza natural da paisagem. Mas ainda queriam desenhar a mala sem alça! E desenharam! E na hora de pintar o escravo, a maioria dos alunos brancos pintou o seu negro com o famigerado lápis "cor de pele"... Que pele é essa? Pele de quem? Ele não se deu conta de que a pele do escravo era negra, ou na confusão de se colocar no lugar daquele trabalhador escravo, acabou deixando escapar um pouco do seu "eu" na imagem desse "outro"? Distração ou empatia? Legal foi ver a cara deles quando eu perguntava se existia escravo branco nas charqueadas!

Para concluir, eu queria propor que no dia do índio, do orgulho negro, na semana da luta contra a homofobia, etc. você professor discuta as questões sociais com os seus alunos, sem medo, com maturidade. Eles são maduros o suficiente para terem conta no facebook, para namorar e para quererem andar por aí sem a companhia dos pais; saberão ser maduros para ouvir e encarar a verdade. E precisam muito disso! Neste caso do passado de escravidão do Brasil, acredite se quiser, alguns alunos negros não sabem o quê é "preconceito", "escravo", "afrodescendente", etc.

Até quando vamos deixar estas falhas abertas no nosso sistema de educação? Até quando vamos amargar nossos corações ouvindo dezenas de alunos afrodescendentes de 1º ano negando sua raça e se dizendo brancos? Até quando vamos deixar os "Marcos Felicianos" amaldiçoarem as pessoas dessa maneira ignorante, em nome de seu deus? Quando vamos ensinar que não existe cabelo ruim, mas gente ruim? Quando vamos ter uma educação multicultural, para todos? Quando o lápis marrom e o preto começarão a ser chamados cor de pele?

sábado, 15 de junho de 2013

Crianças invadem as redes sociais!


É impressionante a velocidade com que repentinamente as crianças entraram no facebook. Meus alunos do 4º ano só falam disso agora! E a rede social, assim como nossa sociedade, é visualmente apelativa, e isso ajuda eles a se tornarem cada vez mais precoces, se espelhando no visual do adulto, e são espantosamente bem sucedidos nisso, mas junto com essa maturidade visual e comportamental, vem uma educação mais madura? Falamos com nossas crianças sobre os problemas e responsabilidades dos adultos, que eles querem ser cada vez mais cedo? Existe um tempo determinado para ser criança? O quê é "ser criança"? Quando vamos abrir os assuntos e destruir os tabus? Os pais tem acompanhado os seus filhos enquanto eles acessam a internet? Rede social não é apenas para maiores de idade? O quê é a vida social de uma criança?

Quando vamos aceitar, refletir, discutir, replanejar e mudar isso? Vamos deixar as crianças correrem os riscos de uma rede social, simplesmente expulsá-las de lá ou criar uma rede só para elas, segregando ainda mais? E os pais, vão cumprir o seu papel de educadores ou a escola vai ter que assumir mais este compromisso? E se mais essa responsabilidade for jogada para cima da escola, eu, professor, vou poder instruir e falar livremente sobre tudo com meus alunos, ou o pai que relegou - ou teve esta responsabilidade relegada à mim - ainda vai poder reclamar e se meter no meu trabalho? Onde estará a autonomia do professor nisso tudo?


São questões para se pensar! Questões sérias e urgentes!